As 05 tendências para a advocacia

O ano era 2017 e lançávamos a primeira edição do Inova (tecnologia e direito). A convite de Carlos Neves, então presidente da ESA/PE, pude, com ampla liberdade, pensar na pauta e formato de um evento que iria marcar história.

Rompendo a tradição dos eventos solenes da OAB/PE, trouxemos um formato moderno, rápido e com uma experiência única para os advogados. Palestras com analistas de solução da IBM sobre o potencial da inteligência artificial, decisão automatizada, necessidade de proteção de dados privados, entre outros temas.

O fato é que, em minha apresentação de abertura do evento, decidi apresentar 05 tendências da advocacia que entendia naquele momento. Em verdade, não há um método claro dessa previsão. O destino é um raio solitário na tempestade, ninguém sabe ao certo onde vai chegar. Logo, a previsão do futuro não passa de uma tentativa com grande carga subjetiva, porém por vezes validada pelo próprio destino.

Feita a ressalva dessa “licença poética”, hoje, após 03 anos (uma eternidade para o processo de inovação), decidi enveredar, mais uma vez, nesse labirinto escuro e cheio de incertezas para pontuar, novamente, as cinco tendências dos próximos anos da advocacia.

 Vamos lá.

1) Segregação de sistemas e gadgets

Em 2017 anunciamos que os escritórios de advocacia passariam pelo processo de desmaterialização reduzindo suas estruturas físicas, pois passariam a entender sua quase irrelevâncias para a maioria das demandas e novas oportunidades de contratação.

Ainda neste processo de desmaterialização, o próximo passo será a separação entre o gadget (dispositivo eletrônico usado para o trabalho, seja desktop, notebook ou tablet) dos sistemas de ferramentas utilizadas no trabalho.

Com o surgimento dos workspaces na nuvem, a ideia de relação biunívoca entre advogado e computador perderá o sentido. Ferramentas como Google Docs e Office 365 passarão a ser cada vez mais adotadas com a finalidade que vieram ao mundo. Além disso, o uso pleno das grandes nuvens de dados, fará com que um login e senha em qualquer dispositivo entregue ao profissional o escritório inteiro. Prazos controlados em sistema de nuvem, processos eletrônicos e comunicação por chat completam esse universo.

2) Advocacia entregue por meio de software

Se achou que estava falando de inteligência artificial está enganado. Não é disso que estou tratando. A solução de problemas a partir de sistemas de informação será cada vez mais adotada. Nisso, muitas vezes, estará embarcada diversos conhecimentos jurídicos que guiarão o comportamento do sistema.

Imagine um sistema desenvolvido para gerenciamento de processos de licitação em entes públicos. Os requisitos de cada procedimento adotado serão extraídos da lei; interpretações de pontos dúbios deverão ser escolhidas pelos desenvolvedores; os passos previstos deverão atender normas legais, jurisprudências e posições de cortes de contas.

É preciso mais esforço para negar que o software, em boa medida, substitui a assessoria jurídica do dia a dia do que aceitar que o conhecimento embarcado no software é uma nova forma de entregar o produto da advocacia.

3)  O advogado preocupado com marketing digital

Melhoramento do SEO do site, ranqueamento da pesquisa do google, produção de conteúdo, leads, conversão, views, entre outros, serão termos utilizados cada vez mais por escritórios de advocacia.

O poder que a internet tem de transformar o anônimo em conhecido, aumentar a demanda por serviços do escritório ou profissional já é conhecida e não é possível desconsiderar se você pretende permanecer advogando nos próximos 20 anos.

O mundo plano de Thomas Friedman também alcançou a advocacia e a corrida por posicionamento de mercado facilita disputa dos pequenos com os maiores.   

4) A presença de um novo elemento no escritório: o estúdio de transmissão

A pandemia foi (e está sendo) cruel em diversos aspectos, mas não trouxe apenas problemas. Ela funcionou como um catalizador da adoção de ferramentas de inovação por todos os entes e esferas da atividade jurídica.

Tribunais passaram a usar ferramentas de vídeo conferência para realizar sessões de julgamento, o despacho com desembargadores realizados com dia e hora marcados e do conforto do escritório ou casa, clientes passaram a aceitar a ideia de discutir suas demandas por vídeo chamada, entre tantas coisas.

Nada disso vai deixar de existir. É um legado deixado pelo coronavírus. Os escritórios, então, pensarão no seu cantinho de transmissão para uma sustentação oral ou reunião com o cliente através de vídeo chamada. Fundos chroma key ou painéis com identificação do escritório surgirão como ambientes definitivos dos escritórios.

Muito provavelmente, o uso de realidade virtual para as sessões de julgamento deve surgir nos próximos 5 anos.

5) Redução do mercado de trabalho

Como nem tudo são flores, todos esses avanços ensejarão uma redução significativa das oportunidades de trabalho naquela advocacia “tradicional”. Imagine a redução da demanda de advogados correspondentes já que o processo se virtualizou integralmente.

 Além disso, as soluções de conflitos prévios com o uso de tecnologia (já escrevi sobre isso) fará com que a demanda continue a diminuir, inclusive a de massa.

Esse fenômeno fará com que a desistência pela advocacia aumente nos próximos anos, uma tendência se deve se estabilizar muitos anos depois.

Enfim, esses são as 5 tendências que resolvi destacar desta vez. Dê sua opinião nos comentários abaixo, afinal, ninguém é o dono da verdade.

1 thoughts on “As 05 tendências para a advocacia

  1. Concordo muito com o que disse, já é uma tendência que podemos ver acontecendo, e mesmo assim um texto que alimenta a reflexão, excelente.

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