Coronavirus econômico

“No dia em que todas as pessoas | Do planeta inteiro | Resolveram que ninguém ia sair de casa | Como que se fosse combinado em todo | O planeta | Naquele dia, ninguém saiu de casa, ninguém, ninguém”.  Com esses versos, Raul Seixas parecia descrever o que aconteceria 43 anos depois: “no dia em que a terra parou”.

O Brasil está prestes a atravessar as dificuldades que a China, Itália, Estados Unidos, entre outros países, estão atravessando. O COVID-19, conhecido como coronavirus, possui uma alta capacidade de contaminação, entretanto, segundo informes oficiais, a grande maioria dos quadros clínicos se assemelha a uma gripe leve.

Assim, o coronavirus não é um problema individual, mas sim coletivo. É que – como a maioria das viroses – uma pequena parte dos contaminados precisarão de suporte hospitalar em razão de sintomas mais graves da doença. Contudo, em função de sua virulência contagiante, o percentual de casos graves é baixo, mas o número absoluto tende a ser grande, podendo causar um colapso do sistema de saúde público e privado.

“Evita-se o colapso do sistema de saúde, mas não o colapso do sistema econômico.”

É para evitar esse colapso, então, que surge a solução de contenção para a preservação do sistema de saúde e que a curva de contaminação — considerando o curto período para a cura — não gere uma demanda hospitalar acima de sua oferta. É matemático.

Acontece que essa contenção, com medidas para diminuição do contato humano, afetará diretamente a maior parte dos negócios e, consequentemente, a saúde financeira das empresas. Só que, para esses casos, não haverá ‘hospital’ para tratar as empresas. Evita-se o colapso do sistema de saúde, mas não o colapso do sistema econômico.

As notícias anunciam congelamentos completos de operações, tais como a Apple que decidiu fechar as portas de todas as suas lojas pelo mundo; os tribunais de justiças estaduais que estão suspendendo todos os prazos por 30 dias – afetando, além do jurisdicionado, toda uma cadeia de escritórios e advogados que dependem do andamento de processos; proibições de realizações de eventos; suspensão do período de aula nos colégios; entre outras, além de todas as operações que dependem dessas citadas.

 Será, então, que o mercado está preparado para o desaparecimento abrupto do cliente, da demanda e, assim, do faturamento? E todos os profissionais autônomos que dependem da economia circulando? Enfim, existirão mais empresas falidas do que pessoas falecidas.

Se algumas empresas já flertavam com um ajuste nas suas operações para um mundo após quarta revolução industrial — com funcionários atuando em home office, reuniões por vídeo conferência, operações na nuvem, entre outras coisas –, essa relação passou de paquera para um estupro. Em poucos dias, ou se adaptarão ao novo formato ou apagarão as luzes por um tempo.

Então, o que é possível fazer por essas empresas?

É claro que não irei, aqui, me restringir a falar sobre álcool em gel e orientar todos a lavar as mãos. Eu espero que isso você já saiba!

Para contribuir com aquelas que tentarão essa adaptação, a Google e a Microsoft anunciaram a disponibilização de seus produtos de vídeo chamada e teleconferência, permitindo a reunião à distância de várias pessoas, gratuitamente, por determinado período. O primeiro passo, então, é ensinar sua equipe a utilização da ferramenta adotada para que a comunicação qualitativa permaneça.

Outro fator que deve ser levado em consideração é o rodízio de equipes em grupos, fazendo com que não haja contato com toda a equipe de uma única vez. Então, assim como os hospitais, suas equipes poderão atravessar os sintomas da gripe em momentos distintos, fazendo com que a indisponibilidade não seja concomitante para toda equipe.

Além do mais, a redução de custos em situações inevitáveis, a exemplo das empresas que vivem de grandes eventos, será fundamental. A renegociação dos contratos com fornecedores de forma antecipada também poderá acarretar grande diminuição do prejuízo. Lembrando, nesse caso, a existência da cláusula rebus sic stantibus, presente — ainda que — implicitamente nos contratos e que terá sua importância no presente cenário.

Por fim, como seu objetivo será a continuidade de suas operações, o cliente deve ser preservado. Ter a melhor postura na tratativa das situações empresa-cliente é fundamental para a preservação do que lhe é mais valioso. Não vá “queimar os navios”.

Deus nos proteja.

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